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Paracuru - Ceará - Brasil

Pranchão: a alma do Surf

George Noronha

Embarque na magia e no invejável estilo de vida do surf, na companhia de grandes mestres cearenses do longboard

Na reportagem radical desta semana iremos fazer uma viagem ao passado, mais precisamente, ao tempo em que as pranchas de surf eram conhecidas por "pranchões". Você ficará sabendo por que muitos não trocam a sensação de surfar nessas pranchas enormes por nada e compreenderá por que muitos ficam seduzidos por essa modalidade que mistura técnica, elegância e o mais puro espírito do surf.

O cenário escolhido para servir de pano de fundo para essa reportagem foi a paradisíaca Praia da Taíba, situada a cerca de 70km de Fortaleza, no litoral oeste do Estado, no município de São Gonçalo do Amarante.

Antes de qualquer coisa, os mestres do longboard cearense, Marcelo Bibita, Cardoso Júnior e Dedé Banhos, disseram que, se quiséssemos conhecer e sentir a essência dessa modalidade de surf, primeiro deveríamos observá-los deslizar sobre as ondas. A voz da experiência mais uma vez estava com a razão e quando o trio entrou na água, pudemos perceber logo que estávamos diante de um esporte bem diferente do surf convencional ao qual estamos acostumados. Enquanto alguns surfistas sofriam para executar suas manobras nas pequenas ondas, a turma do pranchão se divertia pegando as mesmas ondas.

Para Cardoso Júnior, o principal atrativo dos pranchões é que eles conservam a alegria que faz parte da essência desse esporte. Segundo ele, esse foi um dos principais fatores que o fizeram enveredar pelos longboards há cerca de 15 anos.

"Eu comecei a surfar com 10 anos de idade. Naquela época, as pranchas eram grandes, mas não eram exatamente pranchões. Acontece que, quando o mar está pequeno, fica muito difícil a prática do surf moderno, tornando o esporte um verdadeiro estresse. Quando fui para o Rio de Janeiro, vi os irmãos Salazar, o Rico de Sousa e vários outros longboarders surfando e se divertindo em ondinhas de menos de meio metro. Assim que voltei para o Ceará comecei a surfar os pranchões. Isso foi em 1996. Hoje, estou com 44 anos e espero chegar aos 80 sentindo a felicidade que só o longboard é capaz de proporcionar", declara Cardoso Jr.

Para o surfista Marcelo Bibita, praticante desde 1975 e 1º recordista mundial de permanência em uma onda, no ano de 2001, a paixão pelo esporte surgiu no verão do ano de 1995.

"Lembro bem que eu sentia a necessidade de retornar às raízes do surf, ao estilo de linhas clássicas que só se vê nos longboards. Era como se eu voltasse no tempo. Correr as ondas ao estilo clássico, caminhar sobre a prancha até o bico em um Hang-Five ou Hang-Ten alucinante. São sensações que só quem surfa de pranchão pode desfrutar" afirmou Marcelo.

Mais conhecido na Praia da Taíba como Príncipe, Dedé Banhos pode ser considerado um verdadeiro herdeiro dos Reis Polinésios. Após a exibição junto com os amigos na praia da Taibinha, ele também fez suas considerações sobre o longboard.

"Surfar de pranchão é uma questão de ´life style´. É mais do que apenas surfar. É poder sentir e viver o melhor do surf ao bom e velho estilo das antigas", comentou Dedé.

Nossa aventura terminou nas dunas da Taíba, onde pudemos contemplar um pôr do sol incrível, em frente ao mar, no frescor de uma suave brisa, vivenciando o verdadeiro estilo de vida dos surfistas, uma experiência de valor inestimável. Se você ainda não experimentou, não sabe o que está perdendo.

Saiba Mais

Glossário: o universo dos surfistas é cercado por termos usados exclusivamente por esta tribo. Muitas destas "gírias" têm expressões na língua inglesa, deixando sem fronteiras o vocabulário do surf

Hang Five: é quando o surfista coloca os cinco dedos de um pé bem no bico da prancha

Hang Ten: é quando o surfista coloca os dez dedos dos dois pés bem no bico da prancha

Waterman: aquele que vive em contato com o mar em suas mais diversas atividades, como surf, caça-submarina, velejo e outros

Life Style: em uma tradução literal seria o estilo de vida. No caso dos surfistas significa estar sempre na praia, usar roupas especialmente produzidas para a prática do esporte, acordar cedo para pegar as melhores ondas

Pranchão: pranchas com tamanho acima de nove pés, ou seja, cerca de 3m

Longboard: o mesmo que pranchão

HISTÓRIA

Longboard convive com o avanço da tecnologia

Houve uma época em que todas as pranchas eram enormes e pesavam um absurdo. Podemos considerar essa época como a Pré-História do surf moderno, já que os próprios protagonistas desse período são tidos, hoje, como dinossauros do esporte.

Existem relatos de que as primeiras pranchas chegaram ao Brasil em meados da década de 1930. Eram feitas de madeira havaiana e trazidas por turistas. Pranchas produzidas por aqui, somente quando o santista Osmar Gonçalves fabricou sua primeira prancha. Naquela época, as pranchas chegavam a pesar quase 100Kg e ter mais de 3m.

Depois da Segunda Guerra Mundial, com o desenvolvimento e a difusão de novos materiais, o surf deu uma grande guinada para sua popularização. As pranchas começaram a diminuir de peso e tamanho. Inicialmente, começou-se a produzir pranchas ocas. Apesar desse modelo ter diminuído muito o peso do equipamento, logo surgiria a prancha de fibra de vidro, matéria-prima mais usada até hoje em sua fabricação.

Muitos acreditavam que seria uma sentença de morte para os pranchões, já que as pranchas modernas permitiam ao surfista muito mais mobilidade, controle e a possibilidade de executar manobras impossíveis para os modelos antigos.

O que ninguém contava era que muita gente, apesar do frisson causado pela nova moda das pranchinhas, não conseguiria se afastar dos pranchões e continuaria a encomendar pranchas com tamanhos acima de nove pés, dando início a uma nova modalidade no surf moderno, que ficaria conhecida no mundo como longboard.

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