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Califórnia - Estados Unidos

Kelly Convida Kanoa, Nat e Carissa para a sua Piscina de Ondas

Redação Surfguru

Depois de quatro meses cheios de especulação, a antecipação e o mistério da piscina do Slater finalmente acabou com um outro olhar para a onda notável.

Desta vez os surfistas da sorte são as estrelas do WCT Carissa Moore, Nat Young, e Kanoa Igarashi, juntamente com Robert "Wingnut" Weaver, o renomado longboarder.

Durante o nosso primeiro exame desta onda notável, vimos Slater parando várias vezes para o tubo. Mas o que é impressionante sobre este último aspecto é como pode-se ficar fundo no tubo. Nat Young e Kanoa Igarashi conseguiram estacionar muito atrás da cortina.

"Isso foi o tubo mais longo da minha vida", disse Nat Young neste clipe. E é claro que ele não está mentindo. E com razão cada um tinha as suas mentes explodindo.

Carissa Moore estava emocionada, postou em seu Instagram: "Há tanta coisa que eu quero dizer e dizer, tantos momentos interessantes que me fazem sorrir só de pensar que eu poderia escrever várias páginas que tentam descrever as ondas, as pessoas, o lugar, etc... a experiência, mas eu não faria justiça. tudo parecia um sonho."

Um mês após a divulgação do vídeo, ainda não se sabia muito sobre a onda artificial perfeita de Kelly Slater. Em entrevista a Todd Prodanovich para revista Surfer, Slater falou unicamente sobre sua obra-prima. Confira.

TP – Tendo em vista que a onda demorou 10 anos a ser criada, o que te motivou a entrar e se envolver neste mundo das ondas artificiais?

KS – Penso que todos nós temos aquele fascínio de surfar “a onda perfeita”. A ideia de criar uma onda onde nós controlamos os parâmetros não é algo propriamente novo. Quando criança, surfei pela primeira vez em piscina de ondas. Era uma visão ainda muito romântica. Experimentei todas e eram divertidas, mas deixavam muito a desejar. Quando finalmente fui exposto ao conceito de ondas intermináveis, deu-se um clique em mim e pensei: “Tenho que fazer isto”. A minha mente ficou absorvida pela ideia de criar uma onda idêntica às que encontramos na natureza.

TP – Ser o primeiro a criar uma onda artificial que “rivaliza” com as dos oceanos não deve ter sido fácil. Quais foram os grandes desafios que você e a sua equipe encontraram?

KS – Olhamos para toda a informação que havia disponível e ficou aquém das nossas expectativas. Por isso, o maior desafio foi desenvolver a nossa própria abordagem científica. Isso significou contratar uma equipe de cientistas de primeira classe e de engenheiros especializados na dinâmica de fluídos, o que cobre tudo relacionado com ondas e movimento de água. Não existia um conhecimento de base lá fora ao qual nos pudéssemos conectar, então, tivemos que criar o nosso. Tivemos uma abordagem formal para compreensão da física e construímos um laboratório de pesquisa para criar essa onda de alta performance.

TP – Como a onda funciona e como explicaria o conceito para um surfista intermédio?

KS – Usamos algo similar a uma asa num avião, que se chama hydrofoil. Quando ele é movido na água, gera um swell idêntico àqueles que se produzem no oceano. Combinamos esse movimento com a nossa fórmula científica e ela produziu exatamente o contorno que precisávamos para criar a onda que eu imaginava. Isso é tudo o que posso dizer por enquanto, porém existem variáveis intermináveis quando combinamos ciência e a engenharia da maneira correta. No filme, eu digo que se trata de uma aberração da tecnologia, mas na verdade é mais como uma solução com tecnologia.

TP – Você é conhecido por se dedicar a fundo em tudo em que está envolvido. De que forma esteve envolvido na criação dessa onda?

KS – Esse é um projeto apaixonante para mim, por isso quis estar envolvido durante todo o processo. Tive sorte de ter uma equipe que tinha as mesmas expectativas que eu para essa onda. Todo o grupo percebeu a visão de ter uma onda de alta qualidade, mesmo que possa estar acima do nível técnico para alguns surfistas. Acreditamos que tínhamos mesmo de fazer algo de um nível diferente daquilo que já existia, até porque temos sempre a possibilidade de regredir no processo e torná-la mais fácil de surfar. Ter as pessoas certas envolvidas nesse projeto foi o melhor presente para mim. Estou muito orgulhoso do que foi alcançado pela equipe.

TP – No vídeo, quando você viu a primeira onda ser gerada parecia que queria sair da sua pele e saltar para dentro d’água. O que passou na sua cabeça naquele momento?

KS – Eu soube que a onda já estava funcionando há alguns dias enquanto estava em Fiji, pois a equipe que estava no local se comunicava comigo sobre tudo o que estava acontecendo durante os testes iniciais. Sabia que o resultado era bom e eu estava tendo alguns problemas para não contar a ninguém sobre isso. Depois de uma semana em que recebia fotos e vídeos, cheguei finalmente ao local. Na noite antes de surfar a primeira onda,  tive problemas para dormir. Estava tanto frio que saía fumaça da piscina pela manhã e não havia sequer um sopro de vento. Ver algo em que trabalhei e sonhei durante tantos anos tornar-se real em frente aos teus olhos… é difícil de descrever.

TP – Em termos de velocidade, a forma como quebra e o sentimento geral da onda, ela é mesmo idêntica ao oceano ou há alguma diferença significante?

KS – Existem diferenças simplesmente baseadas nas curvas naturais e imperfeições do ambiente em contacto com o oceano. Mas na nossa onda a energia está lá: tem power e muita velocidade. E existem algumas coisas para descobrir quando surfamos elas. Por esse lado é similar tentar decifrar uma onda no oceano.

TP – Para você o que isso significa para o surf? Qual o potencial para mudar o esporte e a cultura?

KS – Obviamente vai ser algo em que se pode praticar uma manobra específica, assim como testar pranchas, quilhas… Não há pressa para apanhar a série seguinte, pois a onda seguinte vai ser exatamente como a anterior. Conheço pessoas que têm medo que as ondas artificiais possam mudar ou arruinar de certa forma a nossa cultura, mas não é destinado para substituir nada. Sempre disse que isso é um complemento para o surf no oceano e que é algo pela pura diversão. Penso que pode ajudar o esporte a crescer mais rapidamente de uma forma idêntica à que os skate parks ajudaram o skate a desenvolver-se. E o potencial para os Jogos Olímpicos não pode ser negligenciado.

TP – Depois de surfar na sua onda pode haver alguma dificuldade em voltar à realidade de surfar no oceano com line ups cheios de crowd? Há algum tipo de “ressaca” de ondas-artificiais?

KS – Surfei a onda antes de vir para o Hawaii e, é claro, que queria pegar grandes tubos em Pipe, que está sempre com muito crowd. Mas, na verdade, senti o meu nível de desejo equilibrado em relação a isso. Agora sei que posso ir buscar ondas divertidas na piscina e ficar mais relaxado do que quando estou rodeado de crowd no mar. Essa onda me mostrou o quanto o surf é uma realização para mim. Todos nós queremos o nosso espaço para nos divertirmos e apanhar umas boas ondas para nos acalmar. Sinceramente, acredito que o fato de saberem que podem ir a qualquer lado e pegar ondas boas sem ninguém por perto, poderia tornar as pessoas mais felizes do que surfar no oceano. Penso nos meus amigos que vivem em Santa Bárbara, onde a maioria do swell fica bloqueado pelas “Channel Islands”. Ou na Florida, onde eles esperam por ondas durante todo o verão. Quanta diversão eles não teriam nessa onda durante a baixa temporada? Também sinto que isso aumenta o desejo de viajar mais em busca de explorar novas ondas e experiências diferentes. O surf está muito relacionado com a experiência que temos, então, ter esta onda disponível é tudo o que preciso para resolver os meus nervos, pois sei que está disponível a qualquer hora para ter o prazer físico de surfar. Mas a vertente de viagem do surf – explorar e conhecer o mundo – é algo que não pode ser substituído.

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